Entrevista - Sílvia Amaral Palazzi Zakia

Entrevista com Sílvia Amaral Palazzi Zakia em comemoração aos 70 anos da Sociedade Hípica de Campinas, em 2018.

Este depoimento faz parte de uma série de entrevistas realizadas para as comemorações dos 70 anos da Sociedade Hípica de Campinas. No total, 33 pessoas foram entrevistadas para o projeto que implantou o Centro de Memória do Clube em 2018: Abelardo Pinto de Lemos Neto, Alfredo Pupo de Campos Ferreira Filho, Antoine Kolokathis, Darcy Paz de Pádua, Dora Ann Lange Canhos, Eliana Aparecida Nascimento Evangelista, Elvino Silva Neto, Elza Maria Spínola Castro Armani, Hamilton de Oliveira, Isabela Affonso Ferreira, Ismar Augusto Ribeiro Neto, José Abel Carvalho de Moura, José Fernando Moreira Monteiro da Silva, José Luiz Arruda Toledo, Juventino Nascimento, Luiz Antônio Baldo Pupo de Campos Ferreira, Márcio Coluccini Francisco, Marcos Alberto Correa, Maria Helena Guimarães Pompêo de Camargo, Maria Helena Barros Ribeiro de Siqueira, Maria Stella Roge Ferreira Grieco, Mauro Correa, Mayra Magalhães Pugliesi, Noreen Campbell de Aguirre, Osvaldo Urbano, Pedro Henrique Delamain Pupo Nogueira, Peter B. B. Walker, Raul Teixeira Penteado Filho, Renata Maria Strazzacappa Barone, Roberto Schmidt Neto, Sílvia Amaral Palazzi Zakia, Vera Vieira, Vítor Trabulsi.

Entrevistada: Silvia Amaral Palazzi Zakia. Associada, Arquiteta. 54 anos. Nascimento: 19/03/1964.

Nós sabemos a importância da história, do registro, desta micro história e da história da vida privada, como isso é importante, num contexto mais amplo. Não só do clube, mas também para entender os comportamentos, os hábitos da sociedade.

Eu fiz o curso primário no Colégio Coração de Jesus, depois fui para o Colégio Progresso, depois Colégio Pio XII até terminar o colegial. Fiz Arquitetura na PUCC de Campinas, especialização e mestrado também. O Doutorado na USP e agora estou concluindo o pós-doutorado na USP.
Meu pai ficou sócio em meados da década de 70, eu achei a carteirinha ontem, acho que é 1977, o título era nº 2246. Atualmente estou com o título do meu marido, que também é sócio, José Zakia Neto, nº 1201. Eu frequentava mais com minha mãe e meus irmãos, vínhamos na piscina. As piscinas eram completamente diferentes, onde ficam as palmeiras hoje, tinha uma piscina menor, depois tinha uma retangular grande, mais profunda com a balaustrada em volta, para a prática da natação. E tinha também uma piscina para as crianças no sentido vertical.
Eu jogava tênis, eu estava me lembrando ontem, com o professor Maurinho Correa. As quadras eram lá pra cima, onde hoje são as piscinas da hidroginástica, depois eu fiz um pouco de tênis com o João Lima Nogueira. A minha irmã fez junto comigo um pouco de tênis, a mais nova fazia Hipismo.
Teve uma época que a festa junina era gratuita, tinha muita fruta, o que é tradicional aqui. Os bailes de carnaval eram superlotados, superbacana. Eu só vinha a noite. Matinê nunca vim. Eu já tinha uns 15, 16 anos quando eu conheci o José, meu marido, eu conheci no Carnaval, à noite, e depois a gente se encontrou na festa junina e no ano seguinte, com 17 anos, comecei a namorar.
Eu não fiz parte da equipe que restaurou a Senzala, não conheço o arquiteto, mas coincidentemente eu estava fazendo uma especialização de restauro, lá na PUCC, e era um projeto acadêmico. Neste projeto, nós tínhamos que desenvolver e escolher uma edificação, como objeto de estudo do curso de especialização em restauro. Eu acabei escolhendo a Senzala da Hípica, pois eu já tinha uma ligação com o clube. É uma edificação muito importante, que convém falar um pouco sobre isso, porque é fantástico esse monumento que faz parte do patrimônio do clube, da cidade e até do estado.
Um dos poucos exemplares de Senzala que a gente tem na cidade. E coincidentemente foi em 1998, no Cinquentenário da Sociedade Hípica de Campinas, quando eu estava realizando o meu trabalho. Quando eu escolhi a Senzala, ela estava inteirinha, intacta, e eu tirei umas fotos, para escolher como objeto de estudo e fazer a pesquisa toda. E nesse tempo, um mês depois, desmoronou um pedaço da edificação. A pesquisa que eu fui desenvolvendo para o curso, foi coincidindo com o projeto de restauro, porque demandava um projeto de restauro mesmo, emergencial inclusive, porque podia ruir completamente se não fossem tomadas as devidas providências. Extremamente importante, aquele trecho que sobrou da senzala, é praticamente, praticamente não, é a única de fato, da fazenda, que deu origem à Hípica.
Foi uma fazenda importante, aqui da região de Campinas, é um desmembramento da Fazendo Mato Dentro, que é da região do Parque Ecológico, e pertencia à Viscondessa de Campinas, onde era o engenho, pois eles foram os primeiros a introduzir e a exportar o café na região.
Uma das filhas da Viscondessa, ela tinha duas filhas, acabou se casando com Inácio Amaral Lapa e recebeu, como dote, um trecho da Fazenda Mato Dentro e eles fundaram a Fazenda Lapa em 1849.
As senzalas das fazendas de café, da região de Campinas – que é o segundo ciclo do café, o primeiro é do Vale do Paraíba – a conformação da senzala é no geral, um “quadrado”, com um grande portão no meio, por onde entravam os escravos. Depois, fechavam o portão e faziam a contagem e eles ficavam ali, alojados na edificação que formava o “quadrado”. Aqui na Hípica a gente tem um dos lanços, num dos lados, e pela cobertura a gente pode perceber claramente como se prolongava os outros dois lados do “quadrado” da senzala. É bastante interessante, que essa fazenda aqui, assim como o complexo todo de edificações - e com certeza a produção da fazenda era significativa - serviram para a foto que foi tirada pelo fotógrafo suíço Guilherme Gaensly. A fotografia foi publicada em um guia italiano, que era uma publicação patrocinada pelo governo brasileiro, paulista no caso, para atrair a imigração italiana, após a abolição. A foto da Fazenda Lapa que mostra o conjunto é uma parte desse guia.  (Capa do livro da Hípica /60 anos)!
A minha pesquisa, vai por fontes primárias e secundárias, como fontes secundárias, a gente tem uma bibliografia consistente, sobre a arquitetura paulista, sobre as fazendas de café. Aí tem essa identificação sobre essa tipologia, de como eram as sedes, os conjuntos. Enfim, a gente tem uma bibliografia que nos permite definir bem e identificar com precisão e com clareza. Esses vários momentos, inclusive dos ciclos de café, pois, tem a diferença das fazendas daqui e da região do novo oeste, que é Ribeirão Preto, onde já haviam as colônias de imigrantes. No Vale do Paraíba, eu acho que as senzalas são contornadas como ‘quadrado’, iguais a daqui. Que era por uma questão de segurança, porque o ápice da região aqui de Campinas, coincide com o tráfico negreiro.
Acho fantástico o resgate da história da Sociedade Hípica de Campinas, acho super louvável. Nós sabemos a importância da história, do registro, desta micro história e da história da vida privada, como isso é importante, num contexto mais amplo. Não só do clube, mas também para entender os comportamentos, hábitos da sociedade. A gente sabe da importância e quando é feito com metodologia, mais ainda. A fazenda, que era longínqua, hoje já está inserida no urbano, faz parte da cidade de Campinas.